“Nem mar, nem terra
– a estrema que os separa.
Esta orla de areia
Onde, feliz, passeia,
Só vestida de sol,
A nudez dos humanos.
Um limbo de brancura e alegria.
O tempo sem poder fazer seus danos,
E nenhum rasto ao fim de cada dia.
(Miguel Toga in “Diário”)
Agosto continua ainda a ser o mês de férias “por excelência”. Até quando, não sabemos…
Por isso, aqui deixo, neste espaço, uma breve divagação sobre esta temática.
Tempo de férias! Para uns já terminadas, para outros a decorrer, para aqueloutros ainda por iniciar, e para uns tantos, sem passarem de um desejo impossível…
A nossa caminhada pela vida é feita de expectativas, e entre elas encontramos as férias sonhadas.
Durante o ano vemos pessoas a correr, diariamente, da casa para o emprego, do emprego para as compras, das compras para casa, e, de novo, da casa para o emprego. Alucinante corrida que nos conduz a uma falta de tempo para viver.
As férias podem ser a tão necessária paragem nessa desenfreada marcha rumo ao material, ao ter.
Assim, vamos tentar sossegar longe da poluição sonora e do ar, indo ao encontro da natureza, enquanto ela ainda nos pode oferecer as sombras das árvores verdejantes, o trinar dos pássaros, o épico fragor das ondas, o calor das areias, o sol e a água.
A palavra férias aporta consigo a ideia de dias tranquilos sem horários rígidos nem programas estabelecidos.
Porém, ousaria propor que cada um daqueles, que ainda faz férias, modificasse um pouco esta perspectiva e deixasse vir à tona dos sentidos o seu verdadeiro eu, tão amarfanhado durante todo o resto do ano, pela modernidade, pelo social, pela civilização.
Talvez seja a altura para se tirar a máscara que nos obrigam a usar, libertando-nos da pressão que nos leva a ser o que na realidade não somos, e tornarmo-nos verdadeiros, nós próprios.
Intercalemos o sem nada que fazer, o deixar passar o tempo, com o viver de um reencontro com a família, num outro tempo onde o ser esteja na linha da frente.
Talvez assim consigamos acumular e garantir as energias de que tanto necessitamos para enfrentarmos mais um ano de trabalho, repleto de preocupações, e não, como acontece tantas vezes, recomeçarmos o novo ciclo ainda mais cansados do que quando iniciámos as férias!